O "Foquismo"
Singularidade do modelo cubano – A luta armada não constituía um fato excepcional na América Latina, mas em Cuba assumiu uma característica muito particular, na medida em que separou, de modo radical, a luta política da militar.
Segundo a teoria tradicional concebida por Lênin - líder da Revolução Russa de 1917 - e adotada por todos os par-tidos comunistas do mundo, a revolução socialista deveria ser conduzida por uma minoria esclarecida, que se autoproclamava "vanguarda do proletariado". O modelo cubano, teorizado nos anos 60 pelo jovem intelectual francês Régis Debray, substituiu a vanguarda política por uma vanguarda militar.
A ação da vanguarda política do tipo leninista apoiava-se, de início, nas reivindicações econômicas do operariado e, por isso, começava com a infiltração comunista nos sindicatos. Os comunistas procuravam, desse modo, ampliar a luta dos trabalhadores, objetivando dar-lhes uma consciência política que, supostamente, não possuíam, mas que lhes pertencia por natureza. Assim, os comunistas (leninistas) esperavam que os operários passassem da luta meramente econômica para a política, preparando-se enfim para o enfrentamento global com a burguesia, através de uma insurreição armada. Chegava-se, desse modo, à tomada do poder. O modelo leninista subordinava, pois, a ação armada à estratégia política.
Segundo Debray, isso foi invertido pelo castrismo, que se peculiarizava pela prioridade virtualmente absoluta conferida à luta armada. Esta seria iniciada por um pequeno grupo (vanguarda militar), cujas ações deveriam criar as condições objetivas para a tomada do poder. Portanto, o castrismo consistia em começar a revolução com um foco guerrilheiro que, gradualmente, ampliaria seu raio de ação. Por isso, o modelo castrista teorizado por Debray ficou conhecido como "foquismo".
Quem levou mais longe essa concepção, na prática, foi Ernesto Che Guevara - que devido a sua origem argentina ficou conhecido como "Che". Guevara separou completamente a ação militar da militância política e ignorou a realidade econômica e social, apostando tudo, ao que parece, na vontade (subjetiva) heróica de um punhado de guerrilheiros determinados a sacrificar a própria vida pela causa revolucionária. Com essa concepção subjetivista e totalmente irreal, Guevara iniciou a guerrilha de Nancahuazú na Bolívia, onde encontrou a morte em 9 de outubro de 1967. A concepção era irreal, mas muito propicia para a construção de mitos heróicos. E, de fato, Guevara, com sua boina com uma pequena estrela, foi o herói revolucionário mais cultuado nos anos 60.
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